por Cláudio Gil
fotos de Alice Strauch
Depois de longo inverno, porém nada tenebroso, venho aqui para falar de um voo especial. Em meio a tantas idas e vindas de exposições, palestras e oficinas resolvi escrever sobre a viagem que aconteceu e que ainda acontecerá.
No início do ano tive uma surpresa pra lá de agradável. Dentre os telefonemas de nossoas alunos houve um que me chamou a atenção. Era o telefonema de Alice Strauch, então pretendente às oficinas de caligrafias do saudoso Estúdio Marimbondo, que me perguntava sobre a possibilidade de desenvolver o quanto antes a sua caligrafia para que ela, que é encadernadora, pudesse participar de um concurso de minilivros que aconteceria em Lyon, na França e cujo tema eram as letras do alfabeto.
Expliquei então que não havia uma fórmula mágica, pois o seu desenvolvimento dependeria muito mais dela do que de mim – é o que digo, na verdade, a todos os alunos que se interessam pela arte das letras desenhadas à mão. Disposta a dedicar parte do seu tempo ao aprendizado da caligrafia Alice iniciou suas aulas com o desejo de montar o seu projeto de minilivro utilizando suas próprias caligrafias.

A cada aula ela ia me mostrando os seus projetos, suas encadernações, seu interesse por outras oficinas do estúdio, sua paixão pelas artes e principalmente pelos cadernos e livros, já que seu pai e avô eram encadernadores. Achei bem interessante dar aulas para uma aluna que tinha o mesmo ”vício” que eu: cadernos. Alice, que começara a encadernar em 1999 (no mesmo ano em que eu comecei a estudar caligrafia para me tornar um profissional), me convidou durante uma de nossas aulas, para participar do seu projeto.

Fiquei surpreso e hesitante, mas diante do desafio e da delicadeza do convite resolvi aceitaá-lo como um projeto para curtir um pouco mais a vida e conhecer um pouco mais sobre livros e cadernos. Durante algum tempo trocamos ideias de como seria o livro, o que usaríamos como suporte, que caligrafias utilizaríamos, quais encadernação seriam mais adequadas, o texto a ser utilizado etc.
Foram quase dois meses de desenhos, cadernices e conversas quando um dia, vendo alguns pilotos que ela havia feito, um caderno me chamou a atenção. Era um minilivro de dimensões aproximadas 4 x 6 x 2cm, feitas de cartão para aquarela e com várias de suas páginas já aquareladas pela própria artista. Foi esse o livro escolhido para receber o texto, um poema chamado “O País das Maravilhas”, do poeta Antônio Cícero. Passamos um dia inteiro testando penas e tintas e fazendo as caligrafias diretamente no miolo do minilivro.
No final do dia tive a sensação de que o livro em que comecei a trabalhar se transformou em outro livro – parecia que o país das maravilhas havia realmente tomado conta daquele pequeno objeto. Ver aquele livrinho transformado me deu uma sensação de plenitude e satisfação.

Para finalizar o nosso projeto Alice colocou as capas e de surpresa fez uma sobrecapa utilizando um pequeno papel que eu havia esquecido durante os testes.
Deu no que deu. As fotos estão aí para mostrar o que se tornaram aquelas conversas, tintas, textos, cadernos...
Dias atrás recebi em meu celular a seguinte mensagem de Alice: Cláudio, acabei de receber a carta do concurso de minilivros dizendo que fomos selecionados e aí vamos nós participar da exposição que acontecerá em 2010. E viva nóssss!
Viva mesmo. Deu um trabalhão, mas foi extremamente prazeroso e compensador.


Obrigado, Alice. Valeu o convite.
A exposição se realizará em Lyon, na França e estará aberta para visitação de 29 de janeiro a 27 de junho de 2010.para mais informações acesse www.imprimerie.lyon.fr/imprimerie
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